Sunday, August 01, 2010

Macau, soube-me bem.



Não poderia, obviamente, visitar a China sem conhecer Macau. Afastamo-nos do grupo inicial constituído por espanhóis e rumamos a Hong Kong com destino a Macau, por ferry boat, que nos recebe em português escrito mas não falado. Apenas a pessoa que nos recebeu e nos transportou ao Hotel falava um português algo estranho mas o suficiente para nos sentirmos um pouco em casa; aparentemente, porque nas suas próprias palavras, a passagem para administração chinesa foi o melhor que lhes podia ter acontecido porque agora sim, alguém se preocupa com eles. Fez questão de nos informar que em dez anos o salto no desenvolvimento foi extraordinário. A habitação, a economia, as comunicações, estradas, pontes, a qualidade de vida.

A China aproveita muito melhor os negócios dos casinos, diz. O governo português recebia 15% do lucro dos casinos do Stanley Ho e este tinha monopólio, enquanto os chineses negociaram também com os americanos e recebem 45%. E distribuem dinheiro pelos habitantes. Toda a gente tem o suficiente para viver, explica orgulhoso (percebi que há uma espécie de rendimento mínimo).

"Além disso os americanos pagam bem. Há muito trabalho, vem gente aos montes das Filipinas e de outros lados, porque os chineses não falam inglês".
Quando viu a nossa satisfação ao ver coisas escritas que podíamos entender, explicou prontamente que "aqui ninguém fala português". E acrescentou, encolhendo os ombros, " não percebo porque é que ainda tudo está em português. 50 anos." como quem diz, que ainda vamos ter que levar com isto.
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Ponto Um:, o calor é sufocante. A humidade, pegajosa e desconfortável. Mesmo assim, Macau é a pé.
Ponto dois: não são as semelhanças com o nosso país que caracterizam o território, à excepção dos apontamentos gastronómicos. Macau é China e não há calçada nem pastel de bacalhau que façam acreditar no contrário, apesar de os nossos olhos lusos teimarem em contradizer esta evidência. Mas são só s nossos, acho.
O primeiro impacto é, de facto, a grandiosidade dos "Hoteis/ Casinos do Stanley Ho" na Avenida da Amizade. As imagens falam mas não dizem tudo. São imponentes, coloridos, a transbordar de luz, como os chineses tanto gostam. Por aqui, eram famosas as intermináveis sessões de Baccarat, Blackjack, Roleta ou Fan Tan no Casino do Hotel Lisboa. Não sei se ainda são, ou se se mudaram definitivamente para o mundo moderno.

Ponto três: os sinais de Portugal. O centro histórico faz-se todo a pé. Percorre-se a famosa avenida principal ou Avenida Almeida Ribeiro, ou San Ma Lo (rua nova)nome chinês pelo qual a maior parte da população a conhece e faz-se o percurso recomendado . Chega-se ao Largo do Leal Senado; o seu nome tem origem na divisa "cidade do nome de Deus — Não Há Outra mais Leal" concedida pelo rei D. João IV em sinal de agradecimento porque, durante os 60 anos de ocupação Filipina, Macau nunca reconheceu o domínio espanhol- a bandeira portuguesa nunca foi arriada.

Vale a pena observar os edifícios todos com muita atenção, seguindo o roteiro. Aí encontramos, por exemplo, o edifício em estilo neo-clássico da Santa Casa da Misericórdia, estabelecida em 1568 - a obra de caridade europeia mais antiga na China.

As ruas têm uma agitação intensa. Chega-se obrigatoriamente ao ex-líbris de Macau:
As ruínas de São Paulo. Imagem belíssima. Finalmente satisfizemos a curiosidade sobre " o que é que está do outro lado"? pois....nada. Céu, apenas. Num plano mais baixo encontra-se o Museu de Arte Sacra .

Depois, os jardins. O Jardim de Camões é o mais marcante em termos de presença portuguesa. Logo a partir da entrada, o chão é preenchido com figuras alusivas a cada canto d' Os Lusíadas. O jardim é muito bonito, fica numa colina da cidade e oferece um emaranhado de caminhos e vegetação que transmitem uma tranquilidade, numa serenidade e uma paz contagiantes. É frequentado por idosos que jogam ou passeiam os seus passarinhos, por praticantes de Tai Chi ou praticantes de instrumentos tradicionais chineses. O ponto alto chega com a gruta do busto de Camões onde se pode ler o canto I d'Os Lusíadas.

Próxima visita: Templo Ha-Ma e vários outros locais de culto espalhados pela cidade.
Os chineses são na esmagadora maioria budistas ou taoístas e preservam as suas tradições com fervor. O fascínio e o exotismo da cultura religiosa oriental chegam ao seu auge quando se sente o cheiro dos pivetes (espirais de incenso de vários tamanhos que se suspendem no tecto e ardem durante dias ou semanas) nos altares, sempre envoltos em nuvens de fumo. Uma experiência mística não só pela atmosfera que ali se vive, mas também pela beleza arquitectónica dos templos e simples altares semi privados ricamente adornados.
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Macau Moderna, Ilha de Taipa e a pacata Coloane.
Taipa é a "Las Vegas da Ásia", como explicou o funcionário da agência. A zona é dominada pela imponência do Venetian Macao, replica do de Las Vegas, onde está instalado The Plaza, o maior casino do mundo. De facto, não há muito a acrescentar à evidencia de Macau possuir mais de trinta casinos e ser a única zona assumida de jogo da Ásia. A actividade é tal que há transporte constante directo e gratuito dos hotéis para os casinos, chegando estes a ter barcos, e cais, próprios, na Taipa. Outro mundo.



A guerra Stanley Ho / Sands Corporation
Hotel e Casino Lisboa – Propriedade de Stanley Ho, este casino inaugurado em 1970 foi um dos pioneiros em Macau. A sua arquitectura é marcada pela torre cilíndrica coberta de néon, rematada por uma roleta gigantesca. No interior, a decoração é do género “onde um imperador Ming encontra Luís XIV”. O excesso é o mote. Trata-se de um casino ao estilo da velha guarda, fumarento e frequentado sobretudo por homens. Poderia perfeitamente ter sido o Central Hotel de James Bond.

Sands – Abriu em 2004 e foi o primeiro casino americano a abrir e a desafiar o já clássico Hotel Lisboa. A audácia pertenceu ao bilionário de Las Vegas, Sheldon Adelson (Sands Corporation). Estima-se que tenha sido visitado por 500.000 pessoas apenas nas duas primeiras semanas. Mas este é um casino feito de números impressionantes: possui mais de 700 mesas de jogo, 1200 slot machines e suites de luxo com 120m2. Há que agradar aos jogadores VIP. Afinal, são eles os responsáveis por 70% dos lucros.

Wynn – Inaugurado em 2006, possui as galerias com as melhores marcas de toda Macau (Chanel, Prada, Dior…), o spa mais luxuoso, suites principescas e inúmeros restaurantes. Steve Wynn, conhecido como “construtor de sonhos” chegou tarde ao jogo, mas cheio de ambição, a julgar pelo espectáculo de jactos de água e fogo que animam os exteriores deste edifício elegante e minimalista, com cerca de 600 quartos e 22 andares. O investimento rondou os 1,2 mil milhões de dólares.

Grand Lisboa – É a resposta de Stanley Ho aos dois projectos anteriores. À semelhança do pioneiro Hotel Lisboa, exibe obras de arte da colecção privada do proprietário, incluindo esculturas de madeira e jade. Na sala de jogos pode ser admirado um enorme diamante lapidado. A característica mais marcante do edifício será a torre com vários andares dedicados à zona de casino, múltiplos salões de festa e centenas de quartos, em forma de flor de lótus, o símbolo de Macau.

Venetian – Mais um projecto da Sands Corporation, que, à semelhança do que fez em Las Vegas, recriou em Cotai a cidade de Veneza. Os gondoleiros são filipinos, as gôndolas possuem motor e as águas do Grande Canal são mais azuis que o mar das Caraíbas. O Venetian é a metáfora do kitsch e, até agora, o maior dos empreendimentos em Macau: possui 3000 suites, um anfiteatro com 15 mil lugares, piscina, dezenas de lojas e restaurantes e pretende acolher um franchising do Cirque du Soleil.

MGM Grand Macau – Com um exterior geométrico, grandioso, em tons de dourado, este foi o casino mais esperado de 2007. Possui 600 quartos, 385 mesas de jogo e mil slot machines, spa, sala de espectáculos e nove restaurantes, dispersos por 35 andares. É propriedade conjunta de Pansy Ho, filha de Stanley Ho, e da MGM Mirage.

Quanto às Ilhas, agora ligadas, Taipa é uma vila bonita e colorida, de ruas estreitas, que mantém o aspecto de vila piscatória rodeada de arranha céus. E Coloane...é uma baía mais ou menos deserta, porque praia, obviamente, não fazem. Principalmente as mulheres. Há, aqui duas fotos importantes: uma, reveladora da presença de um tal glorioso na longínqua Coloane.... E a outra....dedicada ao Francis. :) Estive lá, sim. Não comi porque eram 5 da tarde, mas lembrei-me de ti e do outro blogger :p) Por falar nisso....

Ponto quatro: , a comida é....excelente e farta. Havia canja ao pequeno almoço, senhores. Deliciosa. Os restaurantes portugueses são óptimos. Nos dois ou três onde estive, a ementa vinha em chinês, inglês e português, mas ninguém falava português.
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Mas Macau tem muito mais. Tem As Portas do Cerco, para lá das quais estão cidades vizinhas de Cantão, Zhuhai e Shenzhen, tem os palacetes coloniais de tons fortes ainda preservados, e tem bairros antigos, muitas ruas e becos cujos prédios parecem ameaçar ruir a todo o momento. Perguntei porque não tentam preservar, manter os bairros mais antigos com as suas características. Foi-me respondido com grande espanto, para quê?? Está a ver ali? Tudo bairros novos. Muita construção nova. Estradas, pontes, tudo novo. trabalham de dia e de noite. Tudo muito bonito. Arranjar para quê?

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